Duas Vidas: A Novela que Mudou o Cenário Televisivo
Em 13 de dezembro de 1976, a Rede Globo estreou a novela “Duas Vidas”, criada pela renomada autora Janete Clair. Conhecida por seu talento, Janete já havia produzido diversos sucessos, mas essa obra em específico não alcançou a mesma notoriedade.
Com 154 capítulos, “Duas Vidas” foi exibida até 13 de julho de 1977. A novela ficou marcada por polêmicas, que ofuscaram sua trama. Nos bastidores, a protagonista Betty Faria, o ator Mário Gomes e o diretor Daniel Filho se envolveram em um escândalo que chamou a atenção da mídia.
Trama e Contexto
“Duas Vidas” buscava refletir um novo estilo na carreira de Janete Clair, que estava se afastando das histórias fantasiosas para explorar um realismo mais palpável. A trama abordava a vida de cariocas desapropriados do bairro do Catete devido à construção de uma linha de metrô, problematizando os impactos do progresso na vida social. Um dos personagens centrais, Grego, interpretado por Sadi Cabral, se viu à mercê do destino, mudando-se para o apartamento que pertencia ao filho Tomás — vivido por Cecil Thiré — e sua esposa Leda Maria, interpretada por Betty Faria.
Com a morte de Tomás, Leda se envolveu com o médico Vitor Amadeu, papel de Francisco Cuoco, e também com Dino César, um aspirante a cantor interpretado por Mário Gomes. No entanto, Dino também teve sua atenção voltada para Cláudia, dona de uma gravadora e interpretada por Susana Vieira.
Bastidores Conturbados
Embora a trama não tenha sido bem recebida pelo público, suas conturbadas internas geraram grande repercussão na imprensa. Betty Faria e Mário Gomes, que se envolveram amorosamente na vida real, geraram especulações, especialmente porque Daniel Filho, casado com Betty na época, abandonou a produção. Com sua saída, outros diretores, Gonzaga Blota e Jardel Mello, foram chamados para finalizar a novela. Daniel chegou a afirmar que largou a novela e não a assistiu mais.
A situação se agravou quando Mário Gomes se tornou alvo de uma fofoca inusitada. Um jornal publicou que o ator havia sido internado em um hospital devido a uma cenoura entalada. Essa história polêmica foi criada como uma vingança por Carlos Imperial, um produtor que tinha um desentendimento com Gomes.
Censura e Controvérsias
Neste período, o Brasil vivia sob um regime militar, o que contribuiu para o clima de censura em várias esferas, incluindo a televisão. Janete Clair enfrentou problemas com os censores ao tentar incluir críticas sociais na novela. Por exemplo, o romance entre personagens de idades diferentes e as reclamações de um comerciante sobre a sujeira provocada pelas obras do metrô foram considerados inaceitáveis.
Janete, incomodada com os cortes impostos pela censura, enviou uma carta ao Departamento de Polícia Federal expressando sua perplexidade com as decisões dos censores. Ela questionou a lógica por trás da proibição de um romance entre uma mulher madura e um jovem solteiro, além de criticar a censura contra críticas a obras públicas.
Resgate e Legado
“Duas Vidas” foi reapresentada em 1981, em uma versão compacta com apenas 20 capítulos, mas a novela original permanece inacessível, já que apenas seis dos 154 capítulos foram preservados. O legado de “Duas Vidas” nos lembra não apenas as complexidades do conteúdo e da produção da época, mas também os desafios enfrentados pelos criadores diante da censura e da sociedade.