Nos últimos anos, a televisão aberta no Brasil tem enfrentado grandes desafios para se manter relevante. Com o crescimento das plataformas de streaming e mudanças nos hábitos dos consumidores, a situação se tornou crítica em 2025. A disputa por audiência nas novelas do horário nobre da TV Globo, que antes eram inquestionáveis na cultura nacional, agora mostra sinais de instabilidade. Esse fenômeno revela a desconexão entre o que as emissoras oferecem e o que o público realmente deseja.
Mauro Alencar, consultor e doutor em Teledramaturgia pela USP, explica que essa situação é resultado de diversos fatores. As emissoras enfrentam dificuldades para se adaptar a uma nova realidade, ainda resistindo a mudanças necessárias. Alencar afirma que o consumo de teledramaturgia mudou e que muitas partes da indústria ainda agem como se estivéssemos em décadas passadas.
De acordo com o especialista, a telenovela deve refletir as questões sociais e econômicas do país. Ele observa que as gerações mais jovens não assistem novelas como faziam antes, enquanto o público acima de 60 anos continua fiel à TV, mas sente que não se vê representado nas histórias atuais. Para engajar novamente os jovens, é fundamental criar tramas que representem melhor a diversidade de experiências também desse público mais maduro.
Apesar da crise, Alencar acredita que a situação não é irreversível. A telenovela ainda é considerada um dos pilares das grandes empresas de comunicação e permanece relevante no entretenimento. Ele cita um exemplo significativo: quando um personagem de uma novela recentenete utilizou um aplicativo da Defensoria Pública do Rio de Janeiro para regularizar a guarda do filho, o número de acessos ao app aumentou em 300%, atingindo 4.560 acessos por minuto. Isso demonstra que as novelas ainda podem influenciar o comportamento do público.
Alencar enfatiza que a necessidade de adaptação à cultura do século XXI não é empreitada apenas da Globo. Ele destaca a falta de inovação de outras emissoras, como SBT, Band e Record, que não têm acompanhado a evolução da teledramaturgia. Alencar se preocupa com o atual panorama e sugere que a solução passa por um reposicionamento coletivo na indústria, alinhando a produção com as necessidades dos consumidores e as tendências do mercado cultural e de entretenimento.