Na última quinta-feira (13), a rainha Diambi Kabatusuila, líder do povo Bakwa Luntu da República Democrática do Congo, foi recebida no Ilê Asé Iyemonjá Omi Olodô, em Porto Alegre. O evento foi marcado por um toque de tambores tradicionais do batuque gaúcho, criando um ambiente de celebração e reverência.
A visita da rainha faz parte de uma agenda mais ampla, onde ela se encontra com diversas lideranças políticas, culturais e religiosas pelo país. No dia anterior, ela já havia participado de uma atividade na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Em seu discurso no terreiro, Diambi enfatizou a importância simbólica de sua presença. Ela declarou que estar ali era como reencontrar a família e que reconhecia a força e a resistência das comunidades afro-brasileiras, que mantiveram suas tradições mesmo diante de graves adversidades.
“Estar aqui é como reencontrar a família. É recuperar esse contato e reconhecer a força, o poder e a resistência que vocês construíram aqui, mesmo nas piores condições”, disse a rainha. Ela ressaltou que, apesar da história de escravidão e das perseguições, o Brasil conseguiu preservar aspectos da cultura africana. Durante a apresentação dos tambores, Diambi notou a semelhança com as tradições de seu povo, afirmando que a música e a dança ressoavam como em sua terra natal.
Em um momento emocional, Diambi prestou homenagem aos ancestrais africanos que foram forçados a deixar suas famílias e viajar para um novo mundo sob condições desumanas. “Presto minha reverência aos primeiros africanos que chegaram aqui”, afirmou, destacando a criação de um “reino africano” no Brasil.
A rainha também abordou o tema do racismo, enfatizando a ancestralidade africana como a raiz da humanidade. “Todo ser humano é africano, não importa a cor da sua pele. A África é a mãe de toda a humanidade”, declarou.
Um dos momentos mais simbólicos da noite ocorreu quando a rainha se sentou no trono ocupado pelo sacerdote Babá Diba de Iyemonjá, presidente do Conselho do Povo de Terreiro do Estado do Rio Grande do Sul. O sacerdote ressaltou a importância de ter a rainha presente, reconhecendo o terreiro como um “pequeno território de África” no estado, e destacou a representatividade que esse encontro proporciona, especialmente para as crianças da comunidade.
“Aqui, cada um de vocês olha no espelho e vê um rei ou uma rainha. Eu sou somente quem usa a coroa”, finalizou Diambi, motivando os presentes a reconhecerem seu valor e herança.
Quem é Diambi Kabatusuila
Diambi Kabatusuila é a líder tradicional do povo Bakwa Luntu, localizada na região central de Kasaï, parte do antigo Império Luba, na República Democrática do Congo. Reconhecida como uma mulher-rei, ela tem viajado pelo mundo desde sua coroação em 2016, buscando reconectar africanos na diáspora com suas raízes e identidade cultural.